Prefácio do livro Shuayne, resultante da pesquisa do Mestrado de Cristiane de Bortoli, no PPGLI
O mestre Shuayne Shanenawa
A pesquisa de Cristiane de Bortoli sobre os cantos Shanenawa abre um caminho muito importante no conhecimento da "Escola Indígena”. Com esse termo o Laboratório de Interculturalidade (LaBinter) do PPGLLI/ UFAC designa o espaço-tempo de um ensino que transcenderia as salas de aula das aldeias e se estenderia pela educação brasileira, num movimento libertador sonhado desde os tempos da Colônia. Seria uma escola baseada nas vozes de mestres indígenas.
Como se institui um mestre em tal escola? Neste livro, temos algumas pistas, que nos levam ao que seria uma escola indígena Shanenawa, por exemplo. Não só através dos cantos, mas das histórias e da ciência em geral, Cristiane vislumbrou um mestre Shanenawa, o Shuayne, e abriu caminhos acadêmicos para que o ensino deste ancião se alastrasse.
No Acre, a poesia oral traz a floresta para o ambiente universitário, mas sem romper com a escrita: a cópia, a tradução, a leitura são práticas
Esta obra consiste em performances verbivocovisuais (que se poderão visualizar também nos registros audiovisuais que acompanham o livro) e em suas gramáticas percebidas na pesquisa, enfim, o livro traz uma teoria secretada no processo de escuta a que
Se a autoria não fosse uma questão do Direito, e da Literatura, mas tão somente uma experiência da letra, os sujeitos implicados numa obra escrita seriam sempre apagados pelo texto. E esta impessoalidade teria a força do risco - a marca, o estilo.
Shanenawa, cujo intérprete mais respeitado é o Shuayne, o que Cristiane busca é ajudar a desenhar sua marca, transformar sua voz em ensino escolar que não rompa com as tradições familiares. Essa educação escolar indígena é importante para uma região onde a oralidade e a escrita são lados do mesmo caleidoscópio :
"Eis por que podemos pensar que uma verdadeira integração das mídias só se produzirá ao cabo de um esforço crítico amplamente fundado na cultura tradicional, transmitida pela escritura e mantida de modo privilegiado no meio urbano. Se existe crise ou mal-estar, a solução para ambos não se encontra na volta a nenhum estado anterior e puro, mas no reconhecimento e na superação de tudo o que até então nos atingiu. As vozes que estão mais presentes e que ressoarão amanhã são as que terão permeado toda a espessura da escritura" (ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral, 1997, p. 31)
A valorização